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sexta-feira, 6 de junho de 2025

Ajuda humanitária é interrompida em Gaza após caos e mortes

Distribuição de comida a palestinos foi suspensa nesta quarta (4) pela Fundação Humanitária para Gaza, empresa apoiada pelos EUA que comanda a entrega de comida em Gaza. Fundação disse querer pressionar EUA por mais segurança nos postos.

Após episódios de caos e mortes próximos a postos de distribuição, a entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza foi suspensa em todo o território palestino nesta quarta-feira (4).

A Fundação Humanitária para Gaza (GHF), grupo controverso que coordena a distribuição, interrompeu a entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza nesta quarta para pressionar Israel a aumentar a segurança de palestinos perto de seus pontos de distribuição de comida.

A interrupção na distribuição de comida e o protesto da organização humanitária ocorre após dias de caos, correria e mortes em entregas de suprimentos a palestinos. Desde a semana passada, pessoas foram mortas e feridas por tiros em diversas ocasiões. A ONU pediu investigação independente dos incidentes.

A GHF, grupo privado apoiado pelos EUA e responsável pela distribuição de ajuda humanitária em Gaza em associação com Israel, afirmou ter solicitado ao Exército israelense que “orientem o fluxo de pessoas de forma a minimizar confusões ou riscos de escalada” nas proximidades dos perímetros militares dos pontos de entrega de alimentos.

Outros pedidos feitos pela GHF aos israelenses são orientações mais claras para os palestinos e aprimorar o treinamento das tropas para garantir a segurança da população de Gaza.

“A nossa maior prioridade continua sendo garantir a segurança e a dignidade dos civis que recebem ajuda”, disse um porta-voz da GHF. Um porta-voz militar de Israel alertou os civis para que não circulem nas áreas próximas aos pontos da GHF nesta quarta-feira, classificando-as como “zonas de combate”.

O novo processo de distribuição de ajuda, que opera apenas a partir de três pontos para atender mais de dois milhões de pessoas em Gaza, começou no fim de abril, em meio a uma nova ofensiva terrestre de Israel no território.

Organizações humanitárias internacionais criticam o modelo, que envolve seguranças armados, por militarizar a ajuda humanitária e tornar o acesso desigual a alimentos. A ONU critica o impedimento que Israel impôs à entrada de caminhões de ajuda internacional e considera os suprimentos entregues pela GHF até o momento como “uma gota em um oceano”.

O Conselho de Segurança da ONU deve votar nesta quarta-feira uma resolução exigindo cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, além de acesso da ajuda humanitária em todo o território de Gaza. Os palestinos enfrentam uma grave crise humanitária com desnutrição generalizada após bloqueio total de 11 semanas imposto por Israel entre março e maio deste ano.

“É inaceitável. Civis estão arriscando — e em muitos casos perdendo — suas vidas apenas para conseguir comida”, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, na terça-feira, acrescentando que o modelo de distribuição apoiado pelos EUA e Israel é “uma receita para o desastre, que é exatamente o que está acontecendo”.

Na terça-feira, militares israelenses dizem ter disparado contra um grupo que consideraram uma ameaça nas proximidades de um ponto de distribuição de alimentos no sul de Gaza. Ao menos 27 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas, segundo a Cruz Vermelha e autoridades de Saúde de Gaza controladas pelo Hamas. Esse foi o terceiro dia seguido que palestinos foram mortos ao buscar ajuda, disse a ONU.

Palestinos que conseguiram pegar caixas de comida da GHF na terça descreveram cenas de caos, sem ninguém organizando a entrega dos suprimentos ou conferindo identidades, enquanto a multidão se empurrava para conseguir ajuda. A cena se tornou familiar aos palestinos: “Se você é forte, consegue pegar [comida]. Se não for, não pega”.

A recém-criada GHF afirmou na terça-feira que já distribuiu mais de sete milhões de refeições desde que começou a operar, há uma semana. O diretor executivo interino da fundação, John Acree, fez um apelo a trabalhadores humanitários em Gaza: “Trabalhem conosco e faremos a sua ajuda chegar a quem está dependendo dela.”

Voto no Conselho de Segurança da ONU

Especialistas afirmam que toda a população de Gaza — cerca de 2,1 milhões de pessoas — está em risco de fome extrema, apesar das diversas tentativas de intensificar a ajuda. No ano passado, a Jordânia liderou lançamentos aéreos de ajuda humanitária, e os EUA instalaram brevemente um píer flutuante, que enfrentou diversos problemas.

A ONU responsabiliza Israel e a desordem em Gaza pela dificuldade na entrada e distribuição de ajuda no território em guerra. Israel, por sua vez, acusa o Hamas de roubar ajuda —algo que o grupo terrorista nega.

Os dez membros eleitos do Conselho de Segurança da ONU pediram que o órgão, composto por 15 países, vote nesta quarta-feira uma proposta de resolução que exige “um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente em Gaza, respeitado por todas as partes.” O voto ocorrerá em sessão a partir das 17h (no horário de Brasília) desta quarta.

O texto preliminar, visto pela Reuters, também exige a libertação de todos os reféns mantidos pelo Hamas e outros grupos, além do fim imediato de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária e sua distribuição segura e sem impedimentos — inclusive pela ONU — em toda Gaza.

“O tempo para agir já passou”, disse o embaixador da Eslovênia na ONU, Samuel Zbogar, à Reuters. “É nossa responsabilidade histórica não permanecer em silêncio.”

Enquanto o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, tenta intermediar um cessar-fogo em Gaza, ainda não está claro se Washington vetará o texto. Um porta-voz da missão americana na ONU declarou: “Não podemos antecipar nossas ações que ainda estão sendo consideradas.”

Uma resolução precisa de nove votos favoráveis e nenhum veto por parte dos membros permanentes — Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido ou França — para ser aprovada.

A guerra em Gaza começou em 2023, após militantes do Hamas matarem 1.200 pessoas em Israel no ataque de 7 de outubro e levarem cerca de 250 reféns para a Faixa de Gaza, segundo autoridades israelenses. Muitas das vítimas eram civis.

Israel respondeu com uma campanha militar que já matou mais de 54 mil palestinos, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza. Esses dados não distinguem combatentes de civis, mas as autoridades afirmam que a maioria das vítimas são civis e que milhares de corpos ainda estão sob os escombros.

Fonte: g1

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