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sexta-feira, 13 de junho de 2025

Onças em áreas urbanas: veja como se proteger e agir ao encontrar o felino

Ao menos 11 vezes o felino foi avistado próximo às residências este ano em Corumbá. Situação tem alertado moradores e autoridades.

A frequente aparição de onças-pardas e pintadas, principalmente na região urbana de Corumbá (MS) deixou a população sul-mato-grossense em alerta. Ao menos 11 vezes o felino foi avistado próximo às residências este ano na cidade. Mas como agir caso se deparar com uma delas?

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) publicou na quarta-feira (11) uma nota técnica em parceria com vários outros órgãos para esclarecer o monitoramento dessas situações na cidade pantaneira e para orientar moradores em casos de proximidade com o animal silvestre.

É esclarecido que a onça-pintada, maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo, geralmente tem hábitos noturnos e crepusculares, porém padrões diurnos também podem ser registrados.

Uma das medidas de prevenção e segurança é reforçar cercas nas residências, usar abrigos noturnos para animais domésticos, iluminação e eliminar atrativos como, por exemplo, restos de alimentos e cadáveres, o que pode reduzir significativamente os casos de predação e encontros perigosos.

A limpeza de terrenos e bordas de mata também dificulta a aproximação silenciosa de predadores.

Há três formas de prevenir encontros com esses animais, são elas: educação e informação comunitária; gestão de animais domésticos e resíduos, e manejo do ambiente.

Educação e informação comunitária

  • Realizar campanhas educativas nas escolas, postos de saúde, associações de bairro e rádios locais sobre o comportamento da onça-pintada e precauções.
  • Distribuir cartazes com orientações visuais em pontos estratégicos (praças, escolas, comércio) e casa a casa.
  • Instruir pessoas para evitar circulação isolada em áreas periféricas, principalmente ao amanhecer, entardecer, noite e madrugada.
  • Se necessário transitar em áreas de visualizações, levar uma buzina de ar comprimido e usar em caso de encontros.
  • Não permitir que crianças circulem sozinhas (sem um adulto). Dêem preferência para deslocamentos em grupos.

Gestão de Animais Domésticos e resíduos

  • Orientar a população a manter cães de pequeno e médio porte e gatos recolhidos em recintos seguros à noite (currais reforçados ou dentro de casa).
  • Cães de grande porte, (ou de médio porte mantidos em grupos), podem ser mantidos na proximidade das casas, para proteção.
  • Desencorajar a alimentação de animais domésticos ao ar livre após o anoitecer.
  • Reforçar lixeiras e evitar acúmulo de resíduos alimentares em quintais.
  • Desencorajar retirada de lixo doméstico e de comércios ao entardecer, optando preferencialmente para destinação dos resíduos próximos aos horários de coleta.

Manejo do ambiente

  • Cortar vegetação muito densa em terrenos baldios próximos de residências.
  • Manter lotes limpos para reduzir abrigos potenciais para grandes felinos.
  • Não deixar restos de alimentos e lixo expostos.
  • Não realizar descarte de cadáveres de animais em terrenos baldios ou próximo às moradias.

Em casos de aproximação de onça, se a aparição for à distância, sem risco imediato, a orientação é manter distância miníma de 100 metros, se possível. O indicado é não correr, não se aproximar, em hipótese alguma para fotografar ou filmar, orientar outras pessoas a se afastarem com calma. Nunca ficar de costas para o animal e tentar fazer bastante barulho. Grupos e canais oficiais devem ser comunicados de preferência com data, local, hora e comportamento do animal.

Já se o encontro for ainda mais perto, menor que 30 metros, a pessoa não deve correr, mas tentar se manter calmo. Fique em pé, mostre-se grande e faça barulhos firmes como falar alto ou bater palmas. Crianças pequenas devem estar no colo. Afaste-se lentamente, sempre de frente para a onça, sem fazer movimentos bruscos. Se tiver, tocar buzina de ar comprimido, além de manter portas e portões das casas fechados à noite.

Agora se o encontro indica ataque como, por exemplo, o animal estiver abaixado, com patas flexionadas, olhar fixo na pessoa e ponta do rabo batendo com constância, o cidadão não deve nunca virar as costas ou correr. Deve tocar a buzina, buscar amparo em local protegido, como dentro de casa ou carro, porém deve continuar fazendo barulho constante se não conseguir abrigo imediato. Jamais tentar enfrentar ou cercar o animal.

“Acidentes com qualquer animal ocorrem quando o ser humano assume um comportamento desrespeitoso e prepotente em relação ao animal. Animais geralmente atacam quando estão acuados, quando não possuem ponto de fuga”, informa a nota técnica.

O correto é dar alternativas para que uma onça fuja do local. Comunicar o comportamento do anima é extremamente importante.

Cão atacado por onça no dia 24 de março em Corumbá(MS) e pegada do animal em frente a uma residência. — Foto: Ibama
Cão atacado por onça no dia 24 de março em Corumbá(MS) e pegada do animal em frente a uma residência. — Foto: Ibama

Monitoramento das aparições em Corumbá

Em 24 de março, um cão foi atacado na região do Eco Parque Cacimba da Saúde. No dia 27 do mesmo mês, houve relato de outro ataque a cães na mesma região. Segundo moradores, dois animais foram levados por uma onça-pintada. Uma professora disse ter avistado o animal próximo ao Mirante da Capivara.

No dia 15 de abril, moradores relataram que cães haviam sido mortos sob suspeita de ataque. No dia seguinte, equipes do Instituto Homem Pantaneiro e da Polícia Militar Ambiental visitaram a região para instalar armadilhas fotográficas e análise de local. Na ocasião, foram encontrados rastros de onça a dois metros da casa dos moradores e ao longo de toda a estrada, além de ossadas de cães e outros animais.

No dia 18 de abril houve relato de uma onça-pintada avistada próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal, na Rodovia Ramon Gomes e depois na região do Armazéns Gerais Alfandegados de MS (Agesa), imediações da fronteira entre Brasil e a Bolívia.

No dia 20 uma onça-pintada foi flagrada por armadilha fotográfica na região da Cacimba. No mesmo dia, houve relato da predação de um cão na base da PMA.

Dois dias depois, o IHP instalou nova armadilha fotográfica na base da PMA. No dia 25 de abril, foi realizado evento de observação de fauna em zonas urbanas e ainda feito a limpeza da rua onde a onça-pintada foi avistada na área da Cacimba da Saúde.

Já em maio, dia 22, dois bolivianos gravaram imagens de uma onça-pintada na rodovia Ramón Gomes. No dia seguinte, o avistamento do animal ocorreu no Mirante da Capivara, durante tentativa de ataque a um cão. Imagens de câmeras de segurança flagraram a ação.

Dia 26 foi instalada outra armadilha fotográfica novamente próximo à fronteira entre o Brasil e a Bolívia.

No começo deste mês (4) um pescador que vive na região do Mirante da Capivara relatou sobre avistamento de uma onça caçando ariranhas no Canal do Tamengo. Dia 5 foi realizada ação de educação ambiental na região do mirante.

A última aparição ocorreu no dia 6 de junho, onde câmeras de segurança registraram uma onça-pintada no quintal de uma casa na região do Mirante da Capivara. O animal foi afugentado por sinalização sonora.

Especialistas explicam possíveis motivos

Segundo especialistas pantaneiros, o aumento nos avistamentos de onças se dá por quatro possíveis fatores:

  • 🌊Cheia no rio Paraguai, oitavo maior em curso de água da América do Sul
  • 📱Percepção aumentou devido à intensificação da comunicação entre moradores e órgãos ambientais
  • 🐶A presença de presas fáceis, como cães e bezerros, na área urbana
  • 🔥Os incêndios dos últimos anos

O biólogo e doutorando em ecologia ambiental Diego Viana explica que os incêndios provocam uma “reorganização espacial das espécies, o que pode alterar o comportamento e aumentar os avistamentos [em áreas urbanas]”.

O analista do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Luka Gonçalves, afirma que a cheia do rio Paraguai — principal afluente do Pantanal — está diretamente ligada ao aumento de avistamentos de onças em áreas urbanas de Ladário e Corumbá. “Durante a cheia, os animais perdem território seco e buscam refúgio nas áreas mais elevadas, o que os aproxima das cidades”, explica.

  • 🌊🚢Em maio de 2025, o rio atingiu 2,80 metros — o dobro do registrado no mesmo período de 2024 (1,40 m), segundo o Serviço Geológico Brasileiro. Atualmente, o cenário ainda é de cheia, já que o rio ainda recebe água das cabeceiras, reduzindo o habitat natural das onças. O afluente banha cidades pantaneiras de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
  • ⚠️🔥 Em 2024, o Pantanal sofreu mais um ano devastador com queimadas que destruíram mais de 2,62 milhões de hectares, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), da UFRJ. Segundo o especialista, o fogo empurrou as onças para as margens do rio. Com a volta do processo de cheia, os felinos agora buscam abrigo em áreas mais altas

Além da cheia e do incêndios, outros dois fatores contribuem para essa aproximação: aumento da comunicação entre moradores e órgãos ambientais e a maior presença de animais domésticos (presas fáceis).

Para o biólogo Diego Viana, é essencial lidar com a situação de forma equilibrada. “É preciso proteger os animais domésticos e, ao mesmo tempo, garantir a atuação de instituições públicas e do terceiro setor na conservação da fauna e na segurança das pessoas.”

O especialista lembra que ataques a cães e carneiros não são novidade. “Cães, ovinos e outros animais domésticos não são nativos do Pantanal. Há registros históricos e relatos orais de comunidades tradicionais, indígenas, pecuaristas e moradores sobre conflitos com onças.”

Moradores de Corumbá pedem ações urgentes. — Foto: Nilmar Augusto
Moradores de Corumbá pedem ações urgentes. — Foto: Nilmar Augusto

Manifestação de moradores

Moradores de Corumbá (MS) e Ladário (MS), municípios às margens do rio Paraguai, afirmam que a aproximação de onças-pintadas a áreas urbanas se tornou mais frequente nos últimos meses. Na terça-feira (1) eles realizaram uma manifestação, em frente ao Eco Parque Cacimba da Saúde, para cobrar soluções. A presença dos felinos mudou a rotina local e levou a medidas de segurança adotadas pela comunidade e pela Polícia Militar Ambiental (PMA).

De acordo com relatos de moradores, PMA e ONGs que atuam no Pantanal, as onças foram avistadas em pelo menos quatro bairros de Corumbá e Ladário:

  • Assentamento 72, em Ladário
  • Baía Negra, uma Área de Proteção Ambiental também de Ladário
  • Região da Cacimba da Saúde, no bairro Cervejaria, em Corumbá
  • Na região do Mirante da Capivara, em Corumbá

Larissa Freitas e outros nove familiares moram no bairro Assentamento 72, em Ladário (MS), às margens do rio Paraguai. Ela relata que os encontros com onças-pintadas aumentaram após os incêndios de 2020, quando o fogo consumiu 26% do bioma e mais de 4,65 bilhões de animais foram afetados.

“Minha sogra mora aqui há mais de 20 anos e isso nunca tinha acontecido. Depois das queimadas, tanto as onças quanto os porcos-do-mato começaram a se aproximar”, conta Larissa.

Desde o fim do ano passado, Larissa e a família presenciaram ataques a um bezerro, um porco, uma cadela e um cachorro. Em um dos casos, uma onça teria invadido a casa da sogra e atacado um dos cães.

Para evitar novos ataques, a família mudou a rotina. “Às 18h, todos já estamos dentro de casa, com os cachorros trancados. É o que conseguimos fazer por segurança”, explica.

Em outra região, próximo à Baía Negra, Maria de Lourdes de Arruda também percebeu o aumento da presença de onças em áreas urbanas. “Elas aparecem a qualquer hora. Vimos uma pelas câmeras, de madrugada.”

Medo após ataque de onça

A população tem ficado mais alerta e com medo após o caso de ataque de onça em que o caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi morto. O caso aconteceu no dia 21 de abril, no Pantanal de Aquidauana (MS), mas tem refletido em várias regiões.

O documento explica que as aparições de onças na região de Corumbá, por exemplo, ocorre há vários anos. As ocorrências na primeira década dos anos 2000, levaram a Fundação de Meio Ambiente do Pantanal e a Defesa Civil de Corumbá, em parceria com outras instituições, a esboçar um primeiro Plano de Contingência em resposta à ocorrência de grandes felinos na área urbana.

O monitoramento sistemático não foi realizado, mas os dados históricos demonstram que as ocorrências parecem estar relacionadas a eventos de cheia ou incêndios, quando os animais buscam abrigo e presas na área urbana, principalmente nas áreas residenciais mais próximas ao Rio Paraguai.

“A recente mudança de relação com a presença da onça-pintada na região possivelmente se decorreu devido ao recente acidente fatal envolvendo uma onça-pintada na região do Touro-Morto, no Pantanal. O caso foi tratado como de elevado risco de reincidência, dada a alta habituação incomum do animal a humanos, e por isso as autoridades optaram por remover o animal da região, com destinação definitiva ao cativeiro”, informa.

A nota técnica afirma ainda que a percepção e relação sobre a presença de onças foi alterada devido à ampla divulgação do ocorrido com o caseiro, aliado a desinformação.

Jorge Avalo e a onça macho capturada, no Pantanal de MS — Foto: Reprodução
Jorge Avalo e a onça macho capturada, no Pantanal de MS — Foto: Reprodução

Fonte: Mirian Machado, g1 MS

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