O Dourados News saiu pelas ruas de Dourados na manhã desta terça-feira, primeiro dia de julho, marcando 11,8ºC no termômetro, para conversar com a população sobre as estratégias e desafios que os moradores vêm adotando com a queda na temperatura na cidade.
No bairro Jardim Novo Horizonte, o construtor Ildo Santana, de 57 anos, enfrentava a manhã gelada como faz todos os anos há mais de três décadas: com café e chimarrão. “O café, chimarrão e agasalho, é o que eu gosto. Nesse dia frio, chimarrão e agasalho, isso eu acho que é importante”, afirmou com a caneca de café nas mãos, sentado em frente à sua casa, onde mora há 15 anos.

A rotina de Ildo nos dias frios começa cedo. “O agasalho a gente sempre compra. Eu acordo, preparo o chimarrão, tomo o café e depois tomo o chimarrão, e aí me agasalho e vou para o serviço”, conta. O hábito de tomar chimarrão, ele compartilha com os filhos, mas a esposa prefere apenas o café. “Minha esposa não toma chimarrão, mas meus filhos têm o hábito de tomar café e também chimarrão”, complementa.
Já no centro da cidade, a venezuelana Maria Velasquez, de 19 anos, também lida com o frio de forma prática. Há dois anos em Dourados, ela trabalha como atendente em uma padaria e conta que ainda está se adaptando ao inverno brasileiro.
“Eu estou acostumada, está muito frio e o frio vai ser por muito tempo. Agora que ele está começando, a gente está se preparando, comprando os cobertores, as coisas de inverno para estar preparado já para o frio mesmo. Mas está muito frio”, relata.

Comparando com outras regiões do país, ela comenta que já ouviu relatos de lugares ainda mais frios. “Dourados é frio, mas também tem outros Estados no Brasil que são mais frios ainda, como o Rio Grande do Sul”, diz. No entanto, é justamente nessa época do ano que ela encontra um lado positivo: o sabor das comidas quentes. “O pãozinho quentinho, o salgado quentinho, a gente come mais no inverno, cafezinho quente, o pão quentinho na hora. Aí é bom, com manteiga, né? No inverno o pão de queijo quentinho na hora, eu gosto”, afirma com um sorriso.
A rotina no frio exige mais de quem precisa acordar cedo, como é o caso da douradense Lady Dayane, de 38 anos, que trabalha com limpeza e depende da moto para chegar ao trabalho.
“A gente levanta cedo, corpinho quente, e venho de moto trabalhar, terrível, mas tem que trabalhar, né, de qualquer forma, com frio ou sem frio. Aí se prepara, veste um monte de roupa, chega aqui, começa a trabalhar, esquenta, aí vai tirando a roupa, trabalhando, tá tudo certo”, conta enquanto limpa a calçada.

Ela explica que os cuidados com o frio vão além das roupas. Em casa, bebidas e pratos quentes são aliados indispensáveis.
“Ontem mesmo tomei um monte de mate quente com a mãe, a cunhada. E a comida, né? Sopinha, caldo quente, pucheiro, que é daqui típico nosso, que a gente ama. E bora!”, diz animada.
O frio também desafia Lady no turno noturno. Ela relata que, por vezes, precisa retornar para casa de madrugada, quando a sensação térmica é ainda mais baixa. “Eu também trabalho durante a noite, venho embora três horas da manhã com esse friozão. É mais difícil para ir embora […] aí você levanta com o corpo quente, veste as roupas e vem, chega aqui e já começa a trabalhar e esquenta. E na hora de ir embora, já deu uma esfriada no corpo, é terrível”, diz.

Apesar da resistência ao frio, a saúde também exige atenção. Ela conta que, mesmo raramente ficando doente, não escapou de uma gripe nos últimos dias.
“Eu sou muito difícil de ficar doente, graças a Deus. Mas esses dias eu peguei uma gripe terrível, justo por causa disso. Está um calor, um calor, um calor, aí de repente esfria. Ou você está no serviço normal, aí vai embora sem roupa, porque veio sem roupa de frio, e vai embora e o frio, terrível. E aí a gente acaba ficando doente”, desabafa.
E se acordar no frio já é um desafio, imagine quem precisa encarar a água logo cedo. É o caso de Sidnei Azevedo, de 52 anos, que trabalha com lavagem de carros no bairro Água Boa. Morador de Dourados há seis anos, ele explica que precisa adaptar os horários do serviço conforme a temperatura.
“Esses dias frios é complicado para quem trabalha com água. Como a gente trabalha com poço, não é água da rua, a água do poço é menos gelada em relação à água da rua. Mas não é fácil não, tanto é que quando está muito frio a gente não abre”, revela.

Sidnei detalha que, em dias mais frios, a jornada é reduzida. “Então a gente procura começar ali pelas 10 horas, e quando é 15 e 16 horas a gente para. Se tiver muito frio a gente nem abre mesmo, fica fechado. Ontem mesmo nós não trabalhamos de manhã”, diz.
Para ele, a linha que define o que é frio demais é clara: “Hoje para mim é um dia muito frio. Nós viemos de Corumbá, e lá a gente nunca pegou uma frente fria dessa. Lá o máximo que a gente pegou foi 10 graus. Aqui a sensação térmica semana passada chegou de 1 grau, e isso é muito frio”, compara.
Com o tempo, Sidnei diz ter se adaptado à nova realidade climática da cidade. “Nós já se adaptamos aqui, acostumamos, então a gente não está sentindo tanto que nem foi quando chegamos aqui em 2019. Para lidar com água a gente usa camiseta térmica por baixo da camiseta de manga comprida. Isso ajuda bastante, e agasalho, principalmente roupas que evitam molhar as roupas de baixo, e a gente sempre procura trabalhar também, evitando para não pegar sereno, ou seja, umidade”, ensina.

A chegada do frio também impacta diretamente no movimento do lava-jato.
“A gente diminui pela metade, dá em torno de no máximo 5 carros por dia. Se tiver. Ontem mesmo, nós fizemos só um. Jogamos os clientes de ontem para hoje e para amanhã também, que amanhã vai estar bem melhor. Então amanhã a gente deve começar a trabalhar por volta de 7h30”, finaliza.
Fonte: Charles Aparecido/Dourados News