30.3 C
Dourados
terça-feira, 22 de julho de 2025

Frigoríficos de MS já encontram novos mercados para a carne que iria para os EUA

JBS envia lotes para China, Chile, Oriente Médio e Filipinas após tarifaço; abates já voltaram ao normal nas indústrias frigoríficas

As plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul que exportam carne bovina para os Estados Unidos já redirecionaram suas produções para outros mercados. O Correio do Estado apurou que o grupo JBS, o maior exportador do Estado, redirecionou os lotes para China, Chile e outros mercados. 

Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que, além dos dois principais destinos (China e Chile), a produção do grupo também foi redirecionada para países do Oriente Médio e Filipinas. 

Consultado sobre o redirecionamento, o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicadems), Alberto Sérgio Capuci, confirmou que todos os frigoríficos que enviam carne bovina aos Estados Unidos já normalizaram os abates e redirecionaram a produção para outros países. 

“Sim, já está tudo normal, foi tudo redirecionado”, confirmou Capuci, além da JBS, Minerva e Naturafrig também enviam carne aos Estados Unidos. 

O redirecionamento da produção é a segunda reação das indústrias frigoríficas de Mato Grosso do Sul. A primeira decisão, divulgada com exclusividade pelo Correio do Estado, foi a de suspender as exportações para o país norte-americano imediatamente após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% todas as exportações brasileiras a partir de 1º agosto. 

O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, havia adiantado que havia a possibilidade de as indústrias acessarem novos mercados em decorrência do novo status de MS de área livre de aftosa sem vacinação.

“Isso é um fator extremamente positivo, porque vários mercados que a gente não acessava até então podem ser acessados agora exatamente em função dessa restrição americana”.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) apontam que as vendas de Mato Grosso do Sul aos EUA somaram US$ 315 milhões (R$ 1,7 bilhão) de janeiro a junho deste ano, ante US$ 283 milhões no mesmo período do ano passado (R$ 1,4 bilhão) – alta de 11,4%.

Somente a carne bovina teve alta de 78% nas exportações entre os dois anos, saindo de US$ 81,434 milhões, no primeiro semestre do ano passado, para US$ 145,201 milhões, no primeiro semestre deste ano. 

A depender da velocidade com que o Brasil consegue redirecionar sua produção e negociar com os Estados Unidos, os efeitos podem ser amenizados. No entanto, como advertiu o economista Eduardo Matos, o impacto não deve ser subestimado. 

“No curto prazo, logicamente, haverá efeitos negativos. No entanto, no médio e no longo prazo, eu vejo uma normalização do comércio internacional, até mesmo porque essa questão não é favorável nem mesmo para os Estados Unidos, tampouco para o Brasil”.

ARROBA

Apesar da readequação do mercado, a arroba do boi gordo continua em queda no mercado físico. Conforme dados da Granos Corretora, a arroba do boi gordo já recuou 6% ou R$ 17,65 em uma semana, saindo de R$ 303,30, no dia 7 – antes do anúncio de Donald Trump – e chegando a R$ 285,65 ontem. 

No comparativo com o dia 27 de junho, quando a arroba era negociada a R$ 307,20, a queda chega a R$ 21,55 (7%).

A diminuição dos preços pagos aos produtores é uma preocupação do setor da pecuária, como noticiado pelo Correio do Estado. A União Nacional da Pecuária (UNP) manifestou, por meio de nota, preocupação moderada com a tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre a carne bovina brasileira.

“Apesar do alarde gerado, o impacto prático da medida tende a ser limitado”, informou a UNP, da qual a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) faz parte.

De acordo com a nota, o que preocupa o setor “é o movimento de algumas indústrias que tentam utilizar esse cenário como justificativa para pressionar a queda do valor da arroba – prática que consideramos inaceitável”, detalhou a UNP.

O presidente da Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore (Nelore-MS), Paulo Matos, afirmou que o que está ocorrendo é uma tentativa explícita da indústria de transferir os custos de disputas comerciais internacionais para o produtor rural. 

“Os EUA compram apenas 8% da carne que exportamos, o que representa 2,3% da produção brasileira. Falar em colapso de mercado interno é, no mínimo, má-fé. É um discurso criado para tentar jogar a conta dessas tarifas em cima do produtor, pagando menos pelo nosso boi,” denunciou Paulo Matos.

Segundo ele, a análise técnica da entidade mostra que, mesmo com uma queda de até 70% nos embarques para os Estados Unidos, o excedente gerado seria de 160 mil toneladas em um ano. 

“É claro que os frigoríficos querem ampliar margens e usam qualquer argumento para isso, mas o produtor rural não pode ser tratado como amortecedor dos problemas internacionais. Somos nós que geramos emprego, compramos insumos, maquinários e alimentamos o Brasil e o mundo,” criticou.

Fonte: Suzan Benites/Correio do Estado

Leia também

Últimas Notícias