A missão oficial do Senado aos Estados Unidos liderada pelos senadores sul-mato-grossenses Nelsinho Trad (PSD) e Tereza Cristina (PP), respectivamente, presidente e vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), conseguiu recuo parcial do presidente Donald Trump.
Em entrevista ao Correio do Estado na tarde de ontem, Tereza Cristina informou que, durante a reunião com representantes da U.S. Chamber of Commerce e de gigantes empresariais norte-americanos, como Cargill, Caterpillar, ExxonMobil, Shell, Dow Chemical, Merck, S&P Global, Johnson & Johnson, IBM, DHL e Kimberly-Clark, ficou bem encaminhado que a tarifa de 50% não deve recair sobre café, laranja, manga, abacaxi e cacau.
Horas depois da declaração da parlamentar sul-mato-grossense, o próprio secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou que alguns produtos não cultivados no país poderiam ter a tarifa zerada. Ele citou como produtos que se encaixam nessa categoria, que ele chamou de “recursos naturais”, o café, a manga, o abacaxi, a laranja e o cacau.
No entanto, Howard Lutnick não citou nenhum país exportador que seria beneficiado com tarifa zero, lembrando que, conforme anunciou Trump, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros começa a valer a partir desta sexta-feira. “Graças à reação dessas empresas que vão perder com esse tarifaço, o governo norte-americano deve rever a taxação”, projetou Tereza Cristina.
A senadora explicou à reportagem que a U.S. Chamber of Commerce mobilizou essas empresas para mostrar ao governo de Trump o prejuízo que elas teriam com a taxação de 50%, afetando os consumidores norte-americanos. “Nenhum país, além do Brasil, teria condição de repor a quantidade de café necessária para atender o mercado dos EUA, e o mesmo acontece com a laranja e outros produtos”,
detalhou.
Para ela, a missão oficial do Senado atingiu seu principal objetivo, que foi abrir um canal de negociação com o governo dos EUA para que o Poder Executivo do Brasil venha discutir a parte técnica.
“Estamos sendo muito bem recebidos pelos empresários norte-americanos e também pelos senadores, tanto pelos democratas quanto pelos republicanos. Portanto, podemos dizer que o balanço até agora é positivo”, assegurou.
Tereza Cristina argumentou que uma relação comercial de mais de 200 anos entre Brasil e Estados Unidos não pode acabar de uma hora para outra.
“A parte política é pessoal e cabe aos dois presidentes negociar. Estamos abrindo os canais de comunicação, que estavam fechados por conta da falta de amabilidade política do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva [PT], que não teve a capacidade de ligar para Trump”, reclamou.
A senadora pontuou que o “tempo corre enquanto o presidente Lula se recusa a se aproximar do presidente Trump”. “Nós, como representantes responsáveis do povo, fazemos o possível – e o impossível – nos Estados Unidos para defender os interesses do nosso país”, acrescentou, após reunião no Capitólio, em Washington, a capital dos EUA.
Já Nelsinho Trad reforçou que a missão não veio “com bandeira ideológica”. “Nós viemos com dados e responsabilidade. O ‘não’ nós já temos, viemos correr atrás do ‘sim’”, disse, após encontro com executivos da Cargill, ExxonMobil, Johnson & Johnson e Caterpillar, entre outras empresas.
Ele disse ainda que “essa missão é o primeiro passo de uma reaproximação institucional entre os parlamentos do Brasil e dos Estados Unidos”.
“A gente sabe que não é aqui que vamos resolver o problema das tarifas, mas viemos mostrar que o Senado brasileiro está disposto a abrir o diálogo e construir pontes”, declarou, afirmando também que a comitiva pretende demonstrar aos parlamentares estadunidenses que a sobretarifa levará a uma situação de “perde-perde”.