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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Trump confirma recuo parcial e alivia MS dos impactos do tarifaço

Cobrança de 50% passa a valer a partir de 6 de agosto e inclui carnes bovina e de pescado, mas suco de laranja, minérios e celulose ficam de fora da taxação

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ontem assinou o decreto que oficializa a taxação de 50% sobre produtos brasileiros. No entanto, entre as 694 exceções, houve um recuo parcial da sobretaxa para produtos como aeronaves, minérios, suco de laranja, celulose e petróleo. 

A boa notícia para Mato Grosso do Sul é que o setor que mais preocupava o Estado, o ferro-gusa, não será sobretaxado, assim como o setor da celulose e a garantia da expansão da citricultura em MS. 

No entanto, o presidente norte-americano manteve no decreto a aplicação de uma taxa adicional de 40% sobre as tarifas de 10% que já vigoravam (chegando a 50%) para produtos como as carnes bovina e de tilápia, que estão entre os produtos enviados por MS aos EUA.

Mesmo que inicialmente tenha negado prorrogar o prazo, o republicano alterou o prazo da taxação, que inicialmente era o dia 1°, para o dia 6 de agosto. 

Direto do aeroporto de Atlanta, nos Estados Unidos, o senador Nelsinho Trad falou com o Correio do Estado e comemorou o sucesso da missão liderada pelos parlamentares sul-mato-grossenses. Ele afirmou que não acreditava no sucesso da missão, mas que volta dos EUA com o país de portas abertas para o Brasil.

“A missão oficial do Senado aos EUA não foi para falar contra ninguém ou contra qualquer pauta, foi para abrir o canal de negociação entre o Brasil e o governo de Donald Trump, preservando uma relação comercial de mais de 200 anos”, reiterou. 

LIVRES

Conforme adiantou o Correio do Estado na semana passada, no primeiro semestre deste ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o volume de ferro enviado de MS aos EUA foi de 94,5 mil toneladas, com montante negociado de US$ 40,5 milhões. Entre os setores, o de produção de ferro-gusa era o que causava maior preocupação em função do tarifaço.

“Talvez, no curto prazo, o setor mais preocupante para o Estado é o de ferro-gusa, porque mais de 90% do que a gente produz em Corumbá, Ribas do Rio Pardo e Aquidauana é exportado para os Estados Unidos”, afirmou o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, à reportagem na ocasião.

O produto, usado na indústria siderúrgica, não tem atualmente mercados alternativos de grande escala, o que agravaria os efeitos da medida. 

No caso da citricultura, que vem ganhando espaço em Mato Grosso do Sul como uma forma de diversificação agrícola, a sobretaxa representaria um retrocesso em um momento considerado chave para a consolidação da atividade no Estado. Atualmente, o setor já ocupa 25 mil hectares.

A região centro-sul de MS atraiu grandes grupos produtores nos últimos anos, em função da crise do greening em São Paulo, que reduziu drasticamente a produção no principal polo citrícola do País. 

Conforme já havia adiantado o Correio do Estado, a projeção é de que, assim que MS ultrapassar 30 mil hectares plantados, uma indústria de suco de laranja seja instalada. Plano que pode ser mantido, já que o principal mercado para o produto brasileiro são os EUA. 

Outro setor que ficou livre da taxa de 50% foi o da celulose. Mato Grosso do Sul exportou para os EUA US$ 213 milhões em celulose no ano passado, segundo dados do Mdic. Nos primeiros seis meses deste ano, o valor negociado foi de US$ 74,8 milhões.

Ainda que a participação do Estado na pauta de exportações brasileiras não seja tão expressiva quanto em setores como o do boi ou o da soja, a celulose representa um produto com alto valor agregado e importância estratégica para a economia regional.

Verruck afirmou que os projetos de expansão e investimentos no setor continuam inalterados. “Nós fizemos reunião com todo o setor, todos os projetos de investimento continuam no mesmo ritmo, trabalhando”, afirmou ao Correio do Estado.

TAXADOS

Apesar de ter o que comemorar, o Estado ainda terá produtos importantes de sua pauta sendo sobretaxados pelo país norte-americano. No entanto, o setor de carne bovina de MS, que tem como principal destino os Estados Unidos, já havia buscado novos mercados. 

Conforme adiantado com exclusividade à reportagem na semana passada, as plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul que exportam carne bovina para os Estados Unidos redirecionaram suas produções. O Correio do Estado apurou que o grupo JBS, o maior exportador do Estado, redirecionou os lotes para China, Chile e outros mercados. 

Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que, além dos dois principais destinos (China e Chile), a produção do grupo também foi redirecionada para países do Oriente Médio e Filipinas. 

Consultado sobre o redirecionamento, o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicadems), Alberto Sérgio Capuci, confirmou que todos os frigoríficos que enviam carne bovina aos Estados Unidos já normalizaram os abates e redirecionaram a produção para outros países. 

“Sim, já está tudo normal, foi tudo redirecionado”, confirmou Capuci, além da JBS, Minerva e Naturafrig também enviam carne aos Estados Unidos.

Dados do Mdic apontam que as vendas de MS aos EUA somaram US$ 315 milhões (R$ 1,7 bilhão) de janeiro a junho deste ano, ante US$ 283 milhões no mesmo período do ano passado (R$ 1,4 bilhão) – alta de 11,4%.

Somente a carne bovina teve alta de 78% nas exportações entre os dois anos, saindo de US$ 81,434 milhões, no primeiro semestre do ano passado, para US$ 145,201 milhões, no primeiro semestre deste ano. 

Outro produto que ainda será taxado é a produção de pescados, que, apesar de representar venda de apenas US$ 4,9 milhões para os EUA no primeiro semestre, também é um setor em ascensão e que precisará de realocação. Mato Grosso do Sul é o maior exportador de filé de tilápia do Brasil, e seu principal consumidor é o país norte-americano. 

Fonte: Suzan Benites/Correio do Estado

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