Mato Grosso do Sul deve registrar temperaturas acima da média nos próximos três meses e chuvas irregulares, conforme previsão trimestral do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS).
No boletim, o Cemtec-MS afirmou que a temperatura deve permanecer acima da média histórica, ou seja, é esperado um trimestre mais quente que o normal no Estado. De acordo com informações do centro de monitoramento, as temperaturas médias devem variar entre 22°C e 26°C em grande parte do Estado, mas nas regiões noroeste e extremo-sul variam entre 26°C e 28°C e entre 20°C e 22°C, respectivamente.
Segundo Valesca Fernandes, meteorologista do Cemtec-MS, a condição de temperatura acima da média está associada à atuação de sistemas de alta pressão atmosférica que impedem a passagem de massas de ar frias, exercendo a função de bloqueador.
Porém, mesmo diante desse bloqueio atmosférico, “não impede episódios de frio ao longo do período”, com valores próximos a 8°C e 10°C.
Seguindo a previsão do centro de monitoramento, as chuvas devem permanecer irregulares, podendo apresentar índices acima ou abaixo da média histórica e apenas a região centro-oeste do Estado com precipitação abaixo da média para o trimestre. Valesca Fernandes afirmou que a combinação de altas temperaturas, chuvas fora do radar e outras condições devem auxiliar no aumento dos focos de incêndios.
“Altas temperaturas acima de 30°C, baixos valores de umidade relativa do ar, [ficando] abaixo de 30%, velocidade do vento acima de 30 km por hora e mais de 30 dias sem chuvas, todas essas condições podem favorecer a ocorrência de incêndios florestais no estado como um todo”, explica a meteorologista.
Geralmente, outubro é o mês mais quente do ano. Vinícius Sperling, também meteorologista do Cemtec-MS, explica que o fator que contribui para o décimo mês ter um calorão é a falta ou irregularidade da chuva, e por isso supera dezembro, que apresenta precipitação mais regular.
Para ter uma ideia, em outubro de 2024, 14 municípios sul-mato-grossenses registraram temperaturas máximas acima dos 40°C, e Aquidauana foi a responsável pela maior, com 43,7°C.
Acerca da chuva, 31 cidades das 43 analisadas pelo centro de monitoramento ficaram abaixo da média histórica, o que, como afirmou Vinícius Sperling, auxilia para o aumento das temperaturas.
VOLTA DOS FOCOS?
Como reportado pelo Correio do Estado no início deste mês, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que este ano apresenta o menor número de focos de incêndios em 11 anos em Mato Grosso do Sul, com 1.082 focos de janeiro a agosto. Para efeito de comparação, no mesmo período do ano passado, foram registrados 9.635 focos de incêndios, uma diferença de 790,5%.
Complementando, o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Deparmanento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ) revela que, até o momento, 18.830 hectares do Pantanal sul-mato-grossense foram devastados, o que corresponde a 0,19% da área total do bioma.
Acerca do Cerrado, esse números de devastação aumentam, com 60 mil hectares queimados desde o dia 1º de janeiro deste ano, ou seja, cerca de 0,17% da extensão total do bioma.
Sobre o risco do retorno do aumento de focos de incêndios, o major Eduardo Rachid Teixeira, subdiretor da Diretoria de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, avisa para que se evite o uso de fogo em áreas urbanas ou rurais.
“Nas áreas urbanas já é proibido o uso do fogo. Para o ambiente rural, é importante a proteção das áreas mais sensíveis, com aceiros e a própria capacitação dos funcionários rurais em relação à brigada de incêndio. Elas devem ser feitas especialmente no período de pré-temporada, antes da seca, para que no momento da seca a fazenda e a empresa rural tenham capacidade e resiliência para lidar com eventuais focos”, disse o major.
Rachid também explica o porquê das condições climáticas previstas para os próximos três meses poderem aumentar o número de focos de incêndios.
“Conforme a gente tem a maior intensidade do calor e maior irradiação térmica, o combustível chega a uma temperatura mais alta. Então é mais fácil iniciar o fogo nesse contexto. Além dessa relação direta com o início do foco, a gente tem também um incremento na velocidade de propagação, porque uma das fases da propagação do fogo, envolve a desidratação da vegetação. Quando a temperatura está mais alta, essa propagação se acelera”, detalha.