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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Ostentação de políticos, população pobre e redes bloqueadas: entenda a fúria da ‘Geração Z’ que levou o Nepal ao caos

Onda de protestos provocou a morte de 19 pessoas. Jovens entraram em confronto com a polícia, além de incendiarem prédios governamentais e casas de ministros. Governo recuou em relação às redes sociais e instituiu toque de recolher.

O Nepal presenciou, entre segunda-feira (8) e terça-feira (9), uma fulminante revolta da “Geração Z” contra o governo, motivada pelo contraste entre a ostentação de políticos e a pobreza da população. O bloqueio de redes sociais foi visto como a gota d’água para uma revolta sem precedentes no país.

Contexto: A onda de protestos que mergulhou o país no caos e gerou imagens históricas na capital, Katmandu. Durante as manifestações, prédios governamentais e casas de ministros foram incendiados. Em cenas brutais, autoridades do governo foram arrastadas pela multidão e agredidas.

desigualdade social é um dos principais pontos de descontentamento dos jovens nepaleses que levaram milhares de pessoas às ruas. Segundo o Banco Mundial, os 10% mais ricos ganham mais de três vezes a renda dos 40% mais pobres do país.

  • Um em cada cinco nepaleses vive na pobreza. Além disso, 22% dos jovens entre 15 e 24 anos estão desempregados. O Nepal está na lista da ONU de 44 países menos desenvolvidos do mundo.
  • Gaurav Nepune, um dos líderes dos protestos, disse que os jovens vinham conduzindo uma campanha online havia três meses para expor o contraste entre a vida dos políticos e a das pessoas comuns.
  • Usuários passaram a criticar a elite nepalesa publicando fotos de filhos de políticos ostentando luxo, enquanto jovens de famílias pobres precisam deixar o país para sustentar seus parentes.
  • Em meio a isso, escândalos de corrupção beneficiaram políticos. A impunidade alimentou ainda mais a revolta da população.

Força da juventude: As manifestações foram fortemente organizadas por jovens da “Geração Z”. Esse é o nome popular dado às pessoas nascidas entre 1995 e 2009, com algo entre 16 e 30 anos.

  • É a primeira geração considerada nativa digital, já que cresceu em meio à internet, smartphones e redes sociais.
  • Por isso, esse grupo costuma ser descrito como mais conectado, crítico e engajado em debates sobre diversidade, sustentabilidade e política, além de ter hábitos de consumo e comunicação moldados pelo ambiente digital.

A agitação popular, que resultou no incêndio da sede do governo, do Parlamento e da Suprema Corte, é a pior em décadas no país.

  • O país enfrenta instabilidade política e econômica desde a década de 1990, quando uma guerra civil que durou 10 anos resultou na abolição da monarquia nepalesa, em 2008.
  • Por ser muito recente, a democracia no Nepal ainda é considerada muito frágil.
  • Ainda assim, segundo o Índice de Democracia de 2025, publicado pelo V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, o Nepal é classificado como uma democracia eleitoral — no mesmo patamar de Brasil, Argentina e Polônia.
  • Atualmente, o país é governado pelo presidente Ram Chandra Poudel, de centro-esquerda. Já Khadga Prasad Oli, primeiro-ministro que renunciou após a escalada nos protestos, é do Partido Comunista.

Jovens nepaleses já vinham se frustrando com essas instabilidades. Milhões foram obrigados a deixar o país para trabalhar em outros lugares da Ásia e até do Oriente Médio, enviando dinheiro para suas famílias que permaneceram no Nepal.

  • Recentemente, o governo bloqueou as redes sociais alegando disseminação de fake news e falta de cooperação das big techs com a Justiça. A medida, no entanto, foi vista por ativistas como uma tentativa de silenciar o crescente movimento anticorrupção online.
  • O bloqueio das redes fez com que milhares de famílias perdessem o contato com jovens que estão trabalhando no exterior.
  • Diante deste cenário, os jovens recorreram a outras redes que continuavam disponíveis no país, como Viber e TikTok. Foram nessas plataformas que os protestos foram mobilizados.
  • Apenas na segunda-feira, 19 pessoas morreram nas manifestações durante confrontos. A polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a multidão.
  • O número de vítimas fez a situação escalar nesta terça-feira, quando novos protestos condenaram a repressão policial.
  • A intensidade das manifestações levou o primeiro-ministro a deixar o cargo.
  • O governo também revogou o bloqueio às redes.

“Todo cidadão do Nepal já estava farto do governo corrupto do Nepal. A raiva contra este governo vinha se acumulando há muitos meses, mas o chamado para este protesto foi muito espontâneo”, afirmou à agência de notícias Reuters o influenciador digital Sandip, de 31 anos.

Mesmo após a renúncia do primeiro-ministro, a escalada de violência continuou no Nepal. A população ignorou um toque de recolher imposto pelo governo e manteve os protestos durante a noite.

  • Casas de autoridades do país, incluindo a do premiê que renunciou, foram atacadas e queimadas.
  • A residência de outro ex-primeiro-ministro, Jhala Nath Khanal, também foi incendiada. A mulher dele sofreu ferimentos graves e foi levada para o hospital.
  • Dois aeroportos foram danificados, assim como os hotéis Hilton e Varnabas.
  • O aeroporto de Kathmandu, principal porta de entrada internacional do Nepal , foi fechado por causa da fumaça dos incêndios provocados pelos manifestantes. É por ele que chegam, por exemplo, os turistas que viajam para escalar o monte Everest.
  • Civis foram fotografados portando rifles de assalto pelas ruas da capital.

Quem vem agora?

Um dos nomes mais populares entre os manifestantes para governar o país é Balendra Shah, de 35 anos. Ex-rapper e compositor, ele se tornou prefeito de Katmandu em 2022 após uma campanha para limpar ruas e rios da cidade.

  • Após as mortes de manifestantes durante os protestos de segunda-feira, Shah chamou o então primeiro-ministro de “terrorista” que não entendia a “dor de perder um filho ou filha”.
  • Na terça-feira, depois da renúncia de Oli, ele pediu calma aos quase 784 mil seguidores no Instagram.
  • “Querida Geração Z, a renúncia dos seus opressores na política já aconteceu! Agora, por favor, tenham paciência”, escreveu.

“Você e nós precisamos ser cautelosos! Agora a sua geração terá que liderar o país! Preparem-se!”

Fonte: g1

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