Nem deu tempo de o brasileiro sentir a queda da inflação do café moído, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), que calcula a média dos preços praticados nas principais capitais brasileiras.
O levantamento mostrou que, em agosto, o café ficou 2,17% mais barato em relação a julho. Foi o segundo mês seguido de queda, depois de um ano e meio de altas, resultado do pico da colheita.
Mas os preços devem voltar a subir já nas próximas semanas entre 10% e 15%, estima o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio, com base em informações de duas grandes empresas do setor.
Segundo Inácio, o quilo do café deve voltar aos patamares de dezembro, quando chegou a R$ 80.
Isso tem acontecido porque a indústria está pagando mais caro pelo café que vem das fazendas.
No campo, as cotações, que chegaram a cair a partir de março, voltaram a subir desde o início de agosto. Veja no mapa abaixo, que mostra os valores para os tipos robusta e arábica, os principais produzidos no país.
O aumento no campo é o reflexo de fatores como:
- a concretização do tarifaço de 50% dos EUA sobre o café brasileiro, que fez o preço do grão disparar na bolsa de Nova York, que é referência mundial para a negociação do grão;
- os baixos estoques de café no mundo, resultado de quatro anos seguidos de queda na colheita dos principais produtores do mundo em razão dos problemas climáticos;
- a queda na produção brasileira de café arábica este ano, principal variedade produzida no país;
- geadas no Cerrado Mineiro, que causaram um prejuízo de 424 mil sacas (25 mil toneladas), segundo a StoneX Brasil.
Efeito do tarifaço nos preços
Até o início de agosto, o tarifaço ainda não havia provocado alta nas cotações do café no campo brasileiro e na bolsa de Nova York.
Isso porque o mercado esperava que o presidente dos EUA, Donald Trump, colocasse o café na lista de produtos isentos do tarifaço, como fez com o suco de laranja, explica o analista da StoneX Brasil, Fernando Maximiliano. Afinal, mais de 30% do grão consumido nos EUA sai do Brasil.
Como o café ficou de fora da lista, a cotação do produto disparou na bolsa, diante da expectativa de redução da oferta dentro dos EUA.
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O tarifaço também não aumentou a quantidade de café disponível no Brasil, um cenário que poderia ter dado um alívio para o bolso do brasileiro.
“Esse excedente de café [que iria para os EUA] vai ser comercializado para outros destinos”, diz Maximiliano.
Na avaliação dele, os exportadores brasileiros devem começar a vender mais café para a Europa. Isso porque grandes países produtores, como a Colômbia, devem direcionar mais café para os EUA, deixando de atender outros clientes, como os europeus.
Fonte: Paula Salati/Marcelo Tuvuca/g1