22.8 C
Dourados
quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Delegada reage a ataques machistas e racistas na internet: “Eles serão punidos”

Caso foi registrado como injúria racial, com a mesma gravidade penal que o racismo e pode resultar em prisão

“Serão punidos”. É assim que a delegada adjunta da Polícia Civil, Thays do Carmo Oliveira de Bessa, resume o desfecho esperado para os autores dos ataques racistas e machistas que sofreu durante uma entrevista ao vivo em Dourados. O caso, ocorrido na última quinta-feira (2), foi registrado como injúria racial, crime que tem a mesma gravidade penal que o racismo e pode resultar em pena de reclusão.

A delegada concedia entrevista à página Folha de Dourados sobre um flagrante de homicídio quando começaram a surgir comentários ofensivos. Entre as mensagens, um homem escreveu: “Nossa delegada feia, tá mais pra ser empregada doméstica aqui da minha casa que qualquer outra coisa, e tratar ela igual cachorro aqui.” Outros chegaram a chamá-la de “cracuda” e sugeriram que ela “lavasse louça”.

Thays conta que só soube das ofensas no dia seguinte, após receber uma ligação do chefe. “Estávamos no flagrante quando o jornalista me interpelou: ‘grava aqui com a gente’. Falei ali um pouco sobre o que havia acontecido, levei as autoras para a delegacia, deliberei. No outro dia soube dos comentários porque meu chefe me ligou”, relatou ao Campo Grande News.

“É um sentimento de indignação. A pessoa ataca e se sente protegida por um computador. A gente evolui como sociedade, mas o racismo continua. O fato de ser autoridade não é obstáculo para isso”, disse. Segundo ela, o autor apagou as mensagens, mas a ocorrência já havia sido registrada e as providências legais adotadas.

Natural de Goiás, Thays viveu muitos anos em Brasília e está há três anos e três meses em Dourados. Ingressou na Polícia Civil após ser aprovada em concurso e inicialmente atuou na Delegacia da Mulher, onde conduziu casos graves, inclusive de feminicídio. “Em um deles encontramos o autor duas horas após o crime. Ganhamos uma moção de aplauso na Câmara por isso”, recorda.

Ela afirma que, apesar de já ter participado de diversas entrevistas sobre crimes complexos, nenhuma repercutiu tanto quanto o episódio de injúria racial. “Enquanto mulher, a gente busca respeito. Que nossa condição de mulher, de profissional, seja reconhecida e que gênero e cor não sejam motivo de desqualificação”, desabafou.

Na sessão desta terça-feira na Assembleia Legislativa, a delegada recebeu apoio das deputadas Lia Nogueira, Gleice Jane e Mara Caseiro. “É por isso que continuam matando mulheres em Mato Grosso do Sul”, analisou a Lia.

As 3 abriram a discussão sobre o caso e tiveram adesão dos parlamentares, O presidente da casa, Gerson Claro, decidiu engrossar repúdio encabeçado pelas deputadas e encaminhar pedido de providências coletivamente, em nome dos 24 deputados da casa.

A Adepol (Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul) divulgou nota de repúdio ontem (7), classificando as ofensas como “descabidas e covardes”. “A associação existe para proteger a honra e as prerrogativas de todos os seus membros. Nenhum delegado está sozinho”, diz o comunicado.

A Polícia Civil identificou que os comentários vieram de diferentes regiões do país e não apenas de Dourados. Os autores serão responsabilizados criminal e civilmente. “A punição tem também um efeito pedagógico. Que sirva para lembrar que atrás da tela há um ser humano e uma sociedade que não tolera mais o preconceito”, concluiu a delegada.

Fonte: Dayene Paz/Campo Grande News

Leia também

Últimas Notícias