Se a eleição para presidente da República fosse hoje, na Região Centro-Oeste, que inclui os estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e o Distrito Federal, o pleito seria decidido pelos eleitores que não são nem pró-Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e nem pró-Jair Messias Bolsonaro (PL), os chamados “nem-nem”, ou seja, que não se enquadram na polarização entre lulismo e bolsonarismo no Brasil.
A informação consta de recorte regional da pesquisa realizada pela Quaest em parceria com a Organização Não-Governamental (ONG) More in Common, coordenada pelo pesquisador e professor da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado.
O levantamento ouviu 10 mil pessoas de todas as regiões do Brasil, entre 22 de janeiro e 12 de fevereiro deste ano, tendo margem de erro de um ponto porcentual para mais ou para menos, e nível de confiança de 95%.
Conforme o recorte do Centro-Oeste, obtido com exclusividade pelo Correio do Estado, 54% dos eleitores da região são “nem-nem”, que na pesquisa receberam o nome de invisíveis, pois ficam à margem do debate político. Do total, 27% são desengajados, e 27% são classificados como cautelosos. Enquanto 31% são bolsonaristas, que no levantamento são chamados de conservadores, sendo 24% conservadores tradicionais, e 7% patriotas indignados.

Já os lulistas, que na pesquisa receberam o nome de progressistas, totalizam 15% do eleitorado do Centro-Oeste, sendo 12% da esquerda tradicional, e 3% dos progressistas militantes. De acordo com a Quaest/More in Common, o grupo dos “nem-nem” está instalado mais ao centro do espectro político e demonstra menos interesse em se manifestar politicamente e de participar de debates públicos.
O recorte do Centro-Oeste coincide com o nacional, que também apontou que 54% do eleitorado brasileiro é “nem-nem”, ficando mais voláteis se comparados a segmentos identificados com esquerda ou direita. A diferença da região para o resto do Brasil está apenas nos porcentuais de progressistas militantes e esquerda tradicional, que nacionalmente totalizam 19%, enquanto regionalmente somam 15%. Já os conservadores tradicionais e patriotas indignados chegam a 27% em nível nacional e, no Centro-Oeste, alcançam 31%.
“Quando dividimos [os entrevistados] em seis grupos, vimos que as posições mais extremas se concentram em segmentos pequenos, enquanto a maioria da população está no meio, cansada da polarização”, comentou o professor Pablo Ortellado.
Ele ainda completou que essas pessoas não são despolitizadas, mas têm opiniões consistentes, porém, não se manifestam em protestos ou nas redes, e acabam invisibilizadas no debate público.
NACIONAL
Em nível nacional, entre os desengajados, 30% relatam ter votado nulo, branco ou não ter comparecido às urnas nas eleições de 2022, e, no mesmo grupo, 65% relatam não terem identificação com nenhum partido, apesar de 21,5% simpatizarem com o PT, e apenas 15% consideram manifestações políticas importantes.
Já entre os cautelosos, apenas 11% concluíram o ensino superior, mais de 55% têm renda menor do que R$ 5 mil, e 12% já não têm o que comer. O grupo é predominantemente nordestino (31%), rural (17%) e católico (48%).
Em comparação aos desengajados, os cautelosos apresentam um nível de engajamento maior (26% veem como relevante a participação em protestos), mas ainda inferior aos segmentos considerados mais polarizados, que ocupam os extremos e cujos índices variam de 49% a 71%.

