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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Dourados 90 anos. Homenagem a quem fez da cidade a sua história

Dona Adiles Torres do Amaral, símbolo de coragem, memória e pioneirismo no jornalismo sul-mato-grossense

Dourados completa 90 anos no dia 20 de dezembro, e o Jornal A Gazeta de Dourados celebra a data com um suplemento especial dedicado à cidade e às pessoas que ajudaram a construir sua trajetória. Entre as homenagens, uma figura se destaca pela força, pela história e pela capacidade de transformar desafios em legado: Adiles Torres do Amaral, jornalista, advogada e um dos nomes mais emblemáticos do jornalismo regional.

Aos 92 anos, dona Adiles é casada com Carlos Alberto Farnesi e mãe de Blanche, June e de Weimar Gonçalves Torres Júnior (in memoriam). Sua vida se mistura à própria história da imprensa douradense, carregando capítulos de coragem, resiliência e amor profundo pela cidade em que nasceu, em 29 de dezembro de 1933.

Filha de Wlademiro Müller do Amaral, agrimensor respeitado e liderança ouvida nos momentos decisivos da vida pública de Dourados, Adiles cresceu em um ambiente de trabalho, responsabilidade e compromisso com a comunidade. Esses valores acompanhariam toda a sua trajetória.

Seu destino ganhou novos contornos em 1951, quando se casou com Weimar Gonçalves Torres, fundador do jornal O Progresso, lançado naquele começo de década e que, até 2019, foi o principal veículo de comunicação impresso da cidade e um dos mais influentes do Mato Grosso do Sul. Juntos, construíram uma marca de credibilidade, jornalismo responsável e profunda ligação com o desenvolvimento regional.

A tragédia atingiu a família em 1969, quando Weimar, então deputado federal, perdeu a vida em um acidente aéreo. De um dia para o outro, dona Adiles viu-se diante de um desafio gigantesco: manter vivo o jornal e os negócios que sustentavam não apenas a família, mas dezenas de trabalhadores. Com determinação incomum, assumiu a direção de O Progresso ao lado do pai e dedicou-se integralmente à missão que a vida lhe entregara.

No livro “Minha história em Dourados”, ela relembra uma predição feita ainda na infância: lhe disseram que teria uma missão especial. Anos mais tarde, ao assumir o jornal, compreendeu que aquele era o propósito que a acompanharia por toda a vida. E cumpriu-o com firmeza, ética e um senso de responsabilidade raro. Como ela mesma repete, com simplicidade:
“O jornal vendia espaço, não vendia dignidade ou caráter.”

Discreta, dona Adiles fala pouco sobre si. Na entrevista para este especial, recorda que o jornal chegou a ter cerca de 70 funcionários e faz questão de ressaltar que nada teria sido possível sozinha. Exalta a importância da família — as filhas, o filho, os seis netos e os cinco bisnetos — e se emociona ao lembrar da vida inteira dedicada ao jornalismo e à cidade.

A poesia também sempre a acompanhou. Blanche relembra que a mãe gostava de escrever versos e os publicava com frequência nas páginas do jornal, revelando a sensibilidade escondida por trás da postura firme.

Viajante do mundo, Adiles sempre voltou para onde suas raízes a chamavam: Dourados, a terra natal que viu crescer e se transformar. “Dourados, quem te viu, quem te vê”, diz com um sorriso, reconhecendo o salto de desenvolvimento da cidade ao longo das décadas.

Entre as várias homenagens recebidas, guarda com carinho o título de Comendadora, reconhecimento por seu trabalho dedicado à sociedade douradense. Para ela, assumir e conduzir o jornal por tantos anos foi um propósito de vida, cumprido com afinco, coragem e integridade.

Ao completar 90 anos, Dourados também celebra todas as pessoas que ajudaram a moldar sua história. E dona Adiles, aos 92, permanece como um símbolo vivo dessa trajetória — uma mulher que enfrentou desafios extraordinários, preservou um dos maiores patrimônios culturais do município e segue inspirando gerações.

Uma vida inteira dedicada a Dourados. Um legado que o tempo não apaga.

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