Antes de se tornar uma das cidades mais importantes do sul de Mato Grosso do Sul, Dourados já era território de vida, cultura e saberes. Muito antes da chegada do colonizador não indígena, a região era ocupada por povos originários, especialmente das etnias Terena e Kaiowá (Guarani-Kaiowá), cuja presença segue marcante na identidade social e cultural do município até os dias atuais.
A história de Dourados também se constrói no contexto de fronteira. Desde o período colonial, o sul do antigo Mato Grosso foi palco de disputas e movimentações envolvendo espanhóis, missionários e bandeirantes. No século XIX, a Guerra do Paraguai (1864–1870) deixou marcas profundas na região. Após o conflito, a definição dos limites entre Brasil e Paraguai, concluída em 1874, favoreceu uma ocupação mais estável, com a fixação de ex-combatentes, trabalhadores rurais e famílias vindas de diferentes origens.
É nesse cenário que surge um dos marcos tradicionais da memória local: a fundação da Colônia Militar de Dourados, em 10 de maio de 1861, sob comando de Antônio João Ribeiro. A partir do final do século XIX e início do século XX, o povoamento não indígena se intensificou, impulsionado pela fertilidade das terras e pelas oportunidades ligadas à pecuária, à agricultura e à exploração dos ervais nativos.
Um fluxo migratório significativo veio do Rio Grande do Sul, especialmente após a Revolução Federalista (1893–1895). Famílias e comitivas percorreram longos caminhos até chegar ao sul do então Mato Grosso, contribuindo para a formação do núcleo que daria origem à cidade. A economia ervateira, com destaque para a atuação da Companhia Mate Laranjeira, também teve papel relevante nesse período inicial.

Na década de 1920, Dourados já era descrita como um povoado em desenvolvimento, com comércio ativo e sinais claros de urbanização. Esse crescimento levou à emancipação político-administrativa, oficializada em 20 de dezembro de 1935, quando Dourados se tornou município, desmembrando-se de Ponta Porã.
Um novo impulso veio nos anos 1940, com a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), em 1943. A iniciativa integrou políticas federais de interiorização e atraiu novos contingentes populacionais, fortalecendo a agricultura, diversificando a economia e redefinindo o espaço urbano e social da cidade.
Ao longo das décadas seguintes, Dourados consolidou instituições, ampliou serviços e fortaleceu sua vocação regional. A educação teve papel central nesse processo, com a criação do Centro Pedagógico de Dourados, em 1970, e, mais tarde, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em 2005, marco que consolidou a cidade como polo universitário e científico.
Hoje, com população estimada em mais de 264 mil habitantes, Dourados é reconhecida como cidade-polo do sul do Estado. Sua economia dinâmica, aliada à força da educação, da saúde e dos serviços, reflete uma trajetória construída por diferentes povos, migrações e políticas públicas. Uma história marcada por diversidade, trabalho e pela capacidade de se reinventar, mantendo viva a memória do passado enquanto projeta o futuro.

