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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Dourados tem quase 30 suicídios no ano e casos reacendem alerta de prevenção

A tarde da última segunda-feira (08/09) foi marcada por tristeza em Dourados. Em uma área de mata próxima à Rua Carolina Cimatti Pereira, a Polícia Civil encontrou o corpo de Mateus, adolescente indígena de 16 anos, que estava desaparecido há cerca de 15 dias.

Em avançado estado de decomposição, ele foi retirado do local sob os olhares de mais de dezenas de pessoas, que acompanhavam em silêncio a cena dolorosa.

Dourados tem quase 30 suicídios no ano e casos reacendem alerta de prevenção

O caso reacende o alerta sobre a importância da prevenção ao suicídio, especialmente neste mês de setembro, quando a campanha Setembro Amarelo ganha espaço em todo o país.

Criada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) e outras entidades, a iniciativa tem como objetivo quebrar tabus e estimular a conversa sobre saúde mental. Neste ano, o tema é “Conversar pode mudar vidas”.

EM DOURADOS

Os números mostram a gravidade da situação. Segundo a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), nos últimos cinco anos Dourados registrou 150 mortes por suicídio, sendo 120 homens.

Dourados tem quase 30 suicídios no ano e casos reacendem alerta de prevenção

Apenas em 2025, já foram 28 registros: 14 jovens, 10 adultos, dois adolescentes, um idoso e um caso não informado. Do total, 21 eram homens.

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O SUICÍDIO

Entre as muitas histórias que revelam a dor do luto por suicídio está a de Marta Macedo, de 50 anos. Em abril deste ano, ela perdeu o filho João Vitor, de 18 anos, e desde então a rotina da família nunca mais foi a mesma.

“Ele era alegre, brincalhão, educado. O João era sonhador, alegre, generoso, bom amigo, bom irmão, bom namorado, um excelente filho”, lembra Marta em entrevista exclusiva ao Dourados News.

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A empresária conta que não percebeu sinais antes da tragédia. “Nem eu e as pessoas que o rodeavam viram sinais. A última conversa com ele foi antes do almoço. E parecia estar bem. Os porquês me acompanham: como eu não vi? O que eu poderia ter feito para ajudá-lo?”.

A TRISTE CARTA

A lembrança da carta deixada pelo filho é uma das marcas mais difíceis. Marta conta que João Vitor pediu perdão por estar sendo fraco e por ter partido em um dia de sofrimento. Foi a partir dessa despedida que ela passou a reforçar a importância de não desistir diante das dificuldades.

“Na carta que ele me deixou, ele pedia perdão por estar sendo fraco e partindo em um dia mau. A minha missão é dizer a todos: não desistam em um dia mau.”

Dourados tem quase 30 suicídios no ano e casos reacendem alerta de prevenção

Apesar da dor, Marta tenta transformar a perda em missão: “Não quero ser uma consoladora de mães, quero ser o canal que leva vida às pessoas. Quero ser instrumento de cura emocional para os que pensam em desistir. Minha missão é dizer a todos quanto puder: não desista em um dia mau”.

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Ela explica que a mensagem do filho se transformou em um alerta para todos ao seu redor. Marta quer que a história dele inspire outras famílias a prestar mais atenção e que sirva de esperança para quem sofre em silêncio.

“Meu filho era o motivo do meu riso fácil, um presente de Deus. Hoje, falo sobre isso porque quero ajudar outras pessoas a enxergarem que a vida continua, mesmo diante da dor.”

SINAIS E ESCUTA

Segundo a psicóloga Agda Rocha em entrevista ao Dourados News, os sinais de alerta precisam ser observados com atenção.

Dourados tem quase 30 suicídios no ano e casos reacendem alerta de prevenção

“Os sinais verbais aparecem quando a pessoa fala sobre o desejo de morrer ou expressa desesperança. Já os comportamentais envolvem mudanças súbitas, isolamento social, perda de interesse em atividades antes prazerosas. E os emocionais estão ligados à tristeza profunda, irritabilidade e sentimentos de vazio”, explica.

Ela reforça que a escuta é essencial. “A escuta sem julgamento é primordial. Quando a pessoa encontra alguém que realmente a ouve, sem críticas, há um alívio emocional. Isso ajuda a reduzir o isolamento e a abrir caminho para a busca de ajuda profissional.”

Para Agda, campanhas como o Setembro Amarelo são fundamentais.

“Elas ajudam a reduzir preconceitos e estimulam a busca por ajuda. O amarelo é um convite para prestarmos atenção no outro, assim como no semáforo. É preciso ouvir sem minimizar o sofrimento, mostrar apoio e incentivar a procura por profissionais de saúde.”

BUSQUE AJUDA

CVV atende gratuitamente pelo número 188 ou pelo site www.cvv.org.br. O serviço funciona 24 horas por dia, oferecendo escuta acolhedora e sigilosa a qualquer pessoa que precise conversar.

Fonte: Charles Aparecido/Dourados News

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