Pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, desenvolveram uma cepa de fungo capaz de enganar e matar mosquitos transmissores de doenças como dengue, malária e zika.
O microrganismo, do gênero Metarhizium, foi geneticamente modificado para liberar um composto de aroma adocicado semelhante ao das flores — atraindo os insetos antes de eliminá-los.
A descoberta, publicada na sexta-feira (24) na revista Nature Microbiology, oferece uma alternativa biológica aos pesticidas químicos, que vêm perdendo eficácia devido à resistência dos mosquitos.
Perfume mortal
O segredo do novo fungo está em uma substância chamada longifolene, um composto natural de odor doce usado inclusive em perfumes humanos.
Ao ser liberado, o cheiro atrai mosquitos adultos em busca de néctar — fonte de energia essencial para eles.
“Depois de observarmos que certos fungos conseguiam enganar os mosquitos, percebemos que poderíamos turbinar a atração modificando-os para produzir mais longifolene”, explica Raymond St. Leger, coautor do estudo e pesquisador emérito da Universidade de Maryland.
“Antes deste estudo, não se sabia que o longifolene atraía mosquitos.”
Assim que os insetos entram em contato com o fungo, eles são infectados e morrem em poucos dias.
Em experimentos de laboratório, o método matou de 90% a 100% dos mosquitos, mesmo quando havia aromas concorrentes — como o de flores naturais e o cheiro humano.
Segura para humanos e barata de produzir
Os pesquisadores destacam que o fungo é inofensivo para pessoas e outros animais, já que o longifolene tem um histórico de segurança em produtos cosméticos.
Além disso, o microrganismo pode ser cultivado em substratos simples e baratos, como fezes de galinha, cascas de arroz e restos de trigo, o que o torna acessível para países de baixa renda — justamente os mais afetados por doenças transmitidas por mosquitos.
“O fungo é fácil de usar e continua liberando o aroma por meses, mesmo em ambientes abertos. Pode ser uma ferramenta importante para comunidades que não têm acesso a tecnologias complexas”, afirma St. Leger.
Um desafio à evolução
Diferentemente dos inseticidas químicos, que os mosquitos conseguem driblar ao longo do tempo, essa estratégia biológica pode ser praticamente impossível de evitar.
“Se evoluírem para ignorar o longifolene, teriam de deixar de responder às flores — e isso comprometeria sua sobrevivência”, diz o cientista.
O grupo também estuda formas de adaptar o fungo para emitir outros aromas florais, caso surjam populações de mosquitos menos sensíveis ao cheiro original.
Risco global crescente
Com o aquecimento global e a expansão das áreas tropicais, os mosquitos transmissores estão alcançando novas regiões, incluindo partes dos Estados Unidos e da Europa.
Por isso, os pesquisadores acreditam que soluções inovadoras como essa serão cada vez mais necessárias.
“Os mosquitos adoram as mudanças que estamos provocando no planeta”, alerta St. Leger.
“Hoje, queremos usar essa tecnologia na África, Ásia e América do Sul. Mas um dia, poderemos precisar dela para nós mesmos.”
O fungo agora será testado em experimentos de campo em larga escala antes de buscar aprovação regulatória.
Segundo St. Leger, a meta é construir um arsenal diversificado de ferramentas que possa ser ajustado às realidades de cada região — “para que as pessoas tenham o maior número possível de opções para salvar vidas”.
Fonte: g1
