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quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Empresário é preso e Porsche de contador apreendido em ação contra o tráfico em Dourados

Homem foi capturado em Dourados, suspeito de ligação com grupo que envia cocaína aos Balcãs

O empresário de Dourados, J.V.R., de 57 anos, foi preso nesta quarta-feira (26) no âmbito da Operação Balcãs, deflagrada pela Polícia Federal para desmantelar organização internacional responsável pelo envio de grandes cargas de cocaína para a Europa.

Expedido pela 22ª Vara Federal de Porto Alegre (RS), o mandado contra ele foi o único de prisão preventiva cumprido em Mato Grosso do Sul. As outras duas ordens de recolhimento cautelar foram executadas em Porto Velho (RO) e no Paraguai. Os nomes desses alvos não foram informados.

As investigações correm em segredo de justiça, mas o Campo Grande News apurou nesta quinta-feira (27) que J.V.R. foi um dos presos. Como o caso está em sigilo, não há informações sobre qual envolvimento dele com a organização criminosa.

Oficialmente, J.V.R. atua no ramo de construção civil em Dourados e é casado com uma guarda municipal. A mulher não foi alvo de mandado de prisão nessa operação, mas os dois são investigados em outro inquérito da Polícia Federal por lavagem ou ocultação de bens (leia abaixo).

Empresário é preso e Porsche de contador apreendido em ação contra o tráfico em Dourados
O Porsche 2024 avaliado em R$ 700 mil, apreendido no estacionamento de clube (Foto: Divulgação)

Porsche – Além do mandado de prisão de J.V.R., a Operação Balcãs cumpriu cinco mandados de busca e apreensão em Dourados. Um dos alvos foi o contador V.J.F. O veículo dele, um esportivo de luxo Porsche Boxster preto ano 2024, foi apreendido pelos policiais federais.

Avaliado em pelo menos R$ 700 mil, o importado foi recolhido no momento em que estava no estacionamento de um clube recreativo, do qual o contador é sócio. A reportagem apurou que o Porsche está registrado em nome do escritório de contabilidade do qual V.J.F. é diretor-geral. Também devido ao sigilo das investigações, não há detalhes sobre o grau de envolvimento do contador no esquema.

Balcãs – De acordo com a Polícia Federal, 14 mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem no Brasil, na Holanda e no Paraguai, além das três prisões preventivas em Dourados, Porto Velho e no país vizinho de Mato Grosso do Sul.

Também foram feitos o bloqueio de valores em contas bancárias e o sequestro de 43 imóveis e 27 veículos de propriedade dos investigados e de empresas envolvidas nos crimes, avaliados em pelo menos R$ 300 milhões.

A organização criminosa é apontada como responsável por todo o ciclo logístico de remessa de cocaína – da origem nos países andinos até seu destino na Europa – por meio de portos brasileiros.

Conforme a PF, as investigações representam a terceira fase da Operação Hinterland, deflagrada em 2023 contra os compradores de drogas remetidas pela organização por intermédio dos portos brasileiros. O pontapé inicial foi a apreensão de três toneladas de cocaína, em Pelotas, a maior da história do Rio Grande do Sul, em novembro de 2021.

Nesta nova fase, deflagrada ontem, foi identificado que o comprador da droga era integrante de uma das máfias mais atuantes na região dos Balcãs. Os alvos teriam enviado pelo menos 12 toneladas de cocaína à Europa.

Esse traficante europeu possuía relação permanente com a célula estabelecida no Paraguai, de onde fazia o controle de todo o fluxo logístico, desde a aquisição do entorpecente produzido em países andinos até a destinação aos portos em países europeus.

Os Balcãs são uma região geográfica localizada no sudeste da Europa, que corresponde em grande parte à Península Balcânica. Entre os países que fazem parte estão Montenegro, Sérvia, Croácia, Bulgária, Bósnia e Herzegovina e Albânia.

Audiência – Ontem à noite, J.V.R. passou por audiência de custódia na 1ª Vara Federal em Dourados, para o juiz verificar se no momento da prisão foram respeitadas as garantias constitucionais do preso.

“Tendo em vista que não houve ilegalidade no contexto da prisão do custodiado, sendo observados os direitos e garantias do preso, mantém-se a prisão preventiva”, despachou o juiz Moises Anderson Costa Rodrigues da Silva.

O advogado Alberi Rafael Dehn Ramos, que assumiu a defesa de J.V.R., se manifestou por meio de nota encaminhada ao Campo Grande News e negou ligação de seu cliente com o tráfico internacional.

“Ele não tem nenhuma relação com os fatos investigados pela Polícia Federal. O J. sempre foi construtor e executou diversas obras. Não tinha como saber qual a origem dos recursos para os empreendimentos que foram construídos. Até onde ele sabe, sempre se envolveu com pessoas idôneas, empresários e produtores bem-sucedidos. Nunca participou de qualquer lavagem de capitais para quem quer que seja”, afirmou.

O Campo Grande News ainda não conseguiu falar com a defesa do contador V.J.F. O espaço segue aberto.

Dinheiro apreendido – No dia 31 de agosto de 2022, J.V.R. e a esposa foram parados pela Polícia Federal no Posto Pacury, na BR-463, entre Ponta Porã e Dourados. Na caminhonete dele, uma Toyota Hilux, os policiais encontraram R$ 150 mil em espécie e uma pistola. De acordo com o inquérito, no momento o empresário não soube informar a origem do dinheiro, tampouco o valor que levava.

A arma encontrada na caminhonete pertencia à Guarda Municipal de Dourados e estava na posse da esposa do empresário. Como os guardas de Dourados possuem autorização para andarem armados, a pistola foi devolvida no mesmo local. Servidora da ativa, a mulher trabalha no setor administrativo da corporação.

A PF instaurou inquérito para investigar crime de lavagem ou ocultação de bens. A defesa do empresário entrou com recurso para recuperar o dinheiro apreendido, alegando que o valor era lícito, referente à parte da venda de uma construtora.

O MPF (Ministério Público Federal) se manifestou contra a devolução, alegando que ainda havia diligências em andamento para apurar a origem do dinheiro. Entretanto, no dia 22 de março de 2023, o juiz federal Bruno Cezar da Cunha Teixeira determinou à Polícia Federal a devolução do valor apreendido.

Por ausência de provas apontando irregularidade na origem do dinheiro, o inquérito foi arquivado. Entretanto, o procedimento aparece atualmente no sistema da Justiça Federal como “desarquivado” desde 4 de novembro de 2025.

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